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Writer's pictureMarcia Farias

"O segredo da Coca-Cola"! - o processo "secreto" de admissão na graduação em Harvard

Como é o processo de admissão para a graduação em Harvard, visto por dentro?

Para além de tudo que você já sabe sobre o processo de admissão para cursar a graduação nos Estados Unidos (tudo beeeeem explicadinho no nosso livro "Graduação nos Estados Unidos: tudo que você quer ou precisa saber"), vamos falar neste post de como funciona o processo de admissão em Harvard de dentro para fora. O que fazem os profissionais de admissão nessa universidade, considerada uma das melhores do mundo, e em muitas outras universidades nos Estados Unidos, para recrutar estudantes provenientes de áreas geográficas ou setores sócio-econômicos pouco representados? Como eles buscam, acima de tudo, o sucesso de cada aluno admitido numa turma de primeiro ano? Confira a seguir o passo-a-passo do mundo "secreto" das admissões!


O texto abaixo foi extraído do post do jornal estudantil "Harvard Crimson" da Universidade de Harvard, intitulado "Here’s How the Harvard Admissions Process Really Works".

Os esforços de recrutamento

Muito antes de o estudante aplicar para a universidade, o setor de admissões já comprou de algumas empresas dados sobre seu perfil: notas do SAT e do ACT, por exemplo. A partir daí, o estudante que têm boas notas ou atende a outros critérios de recrutamento começa a receber e-mails e campanhas de marketing da universidade; às vezes ainda no primeiro ou segundo ano do high school. Além disso, em feiras universitárias e visitas a escolas e outras instituições, os profissionais buscam identificar estudantes que se encaixam nos esforços de recrutamento da universidade. A universidade pode até explicitamente convidar o estudante a aplicar para a universidade. É nesse contexto também que alguns atletas são contactados pela primeira vez. O objetivo é alcançar estudantes que se encaixam no perfil de recrutamento da universidade.

A entrevista

Os alunos que apresentam um application para Harvard podem receber um convite para uma entrevista com um ex-aluno da universidade. O entrevistador não tem acesso ao application do candidato - sabe apenas o básico, como nome, telefone, e-mail, e a escola em que o aplicante estuda. Após a entrevista, que dura até 60 minutos, o entrevistador produz um relatório sobre o aplicante, com os prós e contras de admissão desse estudante.


O script que o ex-aluno segue para a entrevista é bem detalhado num manual específico (the interviewer handbook), de forma a oferecer a todos os entrevistados, de qualquer região, a mesma experiência e a mesma chance de admissão. A entrevista flui como uma conversa, mas as perguntas são específicas e direcionadas ao objetivo de auxiliar o entrevistador na redação do relatório, que avalia o potencial de crescimento do estudante na universidade, além de seu senso de direção intelectual e capacidade de contribuir para o ambiente universitário.


Além disso, o relatório inclui um posicionamento de como o estudante poderia se beneficiar de uma educação em Harvard. Por fim, os entrevistadores atribuem notas para quatro áreas de realizações do candidato: pessoal, extracurricular, acadêmica, e geral. As "notas" geralmente vão de 1 a 4 - sendo 1 a maior nota e 4, a menor. Sinais de + e - podem ser adicionados para atribuir uma gradação à avaliação.

A Leitura do Application

Enquanto os aplicantes estão se preparando para a entrevista com o ex-aluno, os profissionais de admissão começam a ler os milhares de applications. A cada profissional de admissão é atribuída uma região geográfica, e esse profissional lê todos os applications daquela região.


O primeiro leitor de cada application registra vários sets de dados, previamente estabelecidos, e anota quaisquer documentos que possam estar faltando no application. Os seguintes dados são sempre registrados: cidadania, raça, status de legacy (explicaremos isso em outro post), atleta recrutado, background socio-econômico, notas nas provas de admissão (SAT, ACT, provas de proficiência de língua inglesa, quando for necessário).

O primeiro leitor também verifica notas e labels que identificam a probabilidade de o candidato precisar de ajuda financeira (bolsa por necessidade financeira). Em Harvard, aproximadamente 60% dos estudantes recebem bolsa parcial e 20%, bolsa integral.

A universidade não oferece bolsa por mérito, apenas pela necessidade financeira que determina que o candidato tem (nem sempre correponde à necessidade financeira que o candidato acha que tem).

Em seguida, os profissionais mastigam os números. Os primeiros leitores atribuem notas para realizações acadêmicas, extracurriculares, atléticas e pessoais, além das cartas de recomendação.


Esse processo de leitura e atribuição de notas segue critérios bem definidos. Um estudante que tira nota 1 (a mais alta) geral, possui excelência acadêmica, com notas escolares e de provas de admissão perfeitas ou quase perfeitas, e possivelmente reconhecimento nacional ou internacional em competições acadêmicas.


O estudante "nota 2" tem algo em torno de 750 ou mais no SAT, ou 33 ou mais pontos no ACT. O estudante "nota 3" pode ter um SAT entre 650 e 730, e um ACT entre 29 e 32. Por fim, o estudante com um SAT entre 600 a 650 e ACT entre 26 e 29, poderá ter uma nota 4.

Essas notas no SAT e no ACT, claro, assim como todo o restante do application, serão medidas sob a perspectiva das oportunidades que o estudante teve.


No quesito atividades extracurriculares, a nota 1 corresponde a um possível reconhecimento nacional ou experiência profissional notável. O estudante de ensino médio que exerceu posições de liderança na escola poderá almejar tirar uma nota 2.


Já o atleta "nota 1" é aquele que compete no seu esporte a nível nacional, internacional, ou olímpico.


No quesito "pessoal", o estudante que demonstra notável habilidade para inspirar aqueles a seu redor, aquele que exibe uma alta capacidade de superação diante de grandes adversidades, pode obter nota 1.

Entretanto, essa parte do application é a mais subjetiva, apesar de a política de admissão ser detalhada.

E é, justamente, a parte mais debatida no poder judiciário, na ação em que o grupo "Students for Fair Admissions" moveu contra a universidade.


Um segundo profissional de admissões lerá também cada application, conferindo fatos e dados. No caso de um application incluir significativo trabalho acadêmico ou artístico, um professor do departamento correspondente poderá também ler o application.


A votação

Após a leitura e ranqueamento dos applications, as melhores são submetidas a duas comissões sucessivas. O voto da maioria em ambas comissões é necessário para a admissão.

Para a turma de 2023 há indicação de que as notas gerais de 1 ou 2 poderão chegar às comissões. Mais raramente, um estudante de nota 3 terá seu application submetido a votação. É o primeiro leitor que decide, um por um, se um estudante de nota 3, 2 ou 1 continuará no páreo.


A primeira comissão que examina os applications é na verdade uma sub-comissão de 5 a 8 pessoas, sendo encabeçada por um profissional de admissão mais sênior. Cada sub-comissão foca em uma região geográfica específica.

As subcomissões discutem e debatem, à medida que analisam os applications de cada candidato. Às vezes, detêm-se - até meia hora ou mais - em um único candidato antes de votar. Trabalham durante todo o período entre o mês de novembro e o fim de fevereiro do ano seguinte.


A subcomissão determina por meio de voto majoritário (maioria simples) quais estudantes passarão para a próxima fase - a da comissão cheia, em que 40 profissionais terão voz. Nessa última etapa, há muita discussão e o destino da candidato pode de repente mudar de um para outro lado - admissão ou rejeição, ou mesmo a lista de espera - até o último dia.


Por que dizemos que o processo de admissão é "secreto"?

Porque não eram conhecidos em tanto detalhe, antes de serem descritos no conjunto probatório revelado no processo judicial mencionado.

Mas, na verdade, nada têm de obscuros. Todas as universidades dos Estados Unidos que professam um processo de admissão holístico seguem esse formato, com pequenas diferenças entre uma e outra universidade.


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